segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Cosas que te pasan si estás vivo

Outro dia, eu e uma amiga decidimos fazer a trilha do Pão de Açúcar, o tempo estava nublado, e de súbito, um sol se abriu no céu, como que nos convidando a subir. A caminhada é puxada, mas de tempos em tempos, por entre a mata, já vislumbrávamos um pouco da natureza que nos surpreenderia ainda mais quando chegássemos ao topo. 
Quando chegamos lá em cima, tivemos poucos minutos de sol, olhamos para baixo e a beleza da Baía da Guanabara fez com que esquecêssemos do cansaço. Tivemos tempo para tirar quatro ou cinco fotos, tentando imortalizar aquele momento. Na outra extremidade, o Cristo Redentor foi ficando encoberto por nuvens. O tempo voltava a fechar e gotas de chuva se lançaram sobre nós. Nos sentamos na área coberta, para tomar um mate de abacaxi e groselha e recuperamos o fôlego. A chuva começou a aumentar, chovia torrencialmente, o vento soprava gelado e úmido.
Depois de um tempo, a chuva foi diminuindo. Agora, começávamos a pensar na volta, numa trilha que estaria encharcada e consequentemente escorregadia. Como muitas outras vezes, em que uma se comportava como pólvora e a outra como fogo, uma impulsionando a outra, decidimos encarar a descida como uma aventura. Aproveitamos a trégua de São Pedro e fomos descendo devagar, com cuidado, mas ao mesmo tempo sentíamos certo desconforto causado pela terra molhada, pelo terreno informe e pela temperatura que havia baixado. E embora estivéssemos descendo com calma, tínhamos pressa em chegar logo no asfalto. Uma pressa irracional, como se nossos ancestrais não tivessem vivido da terra. Como se o asfalto correspondesse a nossa ideia de solo seguro.
Até que enfim, chegamos no chão de cimento, em segurança. Nossas pernas estavam sujas de barro e para nos lavarmos, tínhamos logo adiante a Praia Vermelha, embora pisar na areia e nos lavar na água salgada do mar, não fosse o mais agradável dos planos, era a solução mais prática para aquele momento.
Então, num de repente, fomos surpreendidas. Passamos por uma rocha, da qual escorria água da chuva. Não tivemos dúvida, resolvemos nos lavar ali mesmo, naquela efêmera cascata que acabara de se formar. Naquele momento me senti como uma personagem da série Lost, que há meses sem ver água doce, quando a encontra é um deleite. Mais do que isso, me senti uma índia, acolhida pela mãe natureza, aquele teria sido o momento perfeito para meditar. Para a cena ficar mais poética, só faltou um meteoro luminoso, em forma de arco, apresentando as sete cores do espectro solar, e determinado pela refração e reflexão dos raios solares sobre as nuvens, conhecido por arco-íris, riscar o céu.
Só que aqueles minutos cheios de encantamento, passaram rápido. Minha amiga já me chamava para irmos embora. E novamente fomos surpreendias. A chuva voltou a cair, ficamos completamente molhadas, de algum modo aquele temporal nos deu uma sensação de liberdade, foi como lavar nossas almas. Quando cheguei em casa, minha irmã estava no banho. Como teria que aguardá-la terminar, fui lavar as mãos, mania do mundo moderno, daqueles que chegam da rua. E pensei no despropósito que seria secar as mãos na toalha.
Eu adoro o conforto da sociedade moderna, mas penso que, vez ou outra, pode ser incrível e revigorante nos conectarmos com a natureza que cada vez mais, vemos apenas em livros ou filmes.


P.S.1: O título desse post ficou por conta do meu mais novo cartunista favorito, Liniers.
P.S.2: Nesse dia eu comi pitanga direto da árvore, e sobrevivi.
P.S.3: Fazia muito tempo que não tomava um banho de chuva como este, foi inesperado e energizante.

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