sexta-feira, 6 de março de 2009

É mais presente em mim o que me falta


[Maria] caminhou em direção à porta, e, sem dar-se conta da importância daquele momento, escutou a frase que mudaria para sempre os seus planos, seu futuro, sua fazenda, sua idéia de felicidade, sua alma de mulher, sua atitude de homem, seu lugar no mundo.¹

E como perceber um ponto de virada na sua própria vida simultaneamente ao seu acontecimento?

Era dia nove de julho de 2004, uma sexta-feira de lua minguante quando o amor da minha vida apareceu oficialmente* pra mim sem que eu me desse conta disso. E talvez por não perceber olhei em volta, embora no fundo quisesse olhar só para ele. Procurei rostos conhecidos na multidão, sem saber que seu rosto se tornaria muito familiar.

A história da Maria termina com um beijo** em Paris, romântico no último, sem previsões e sem que ela tivesse medo do “happily ever after”, sem mesmo saber se seria pra sempre. Ela simplesmente quis arriscar e pulou de cabeça sem parar pra pensar. Deixou acontecer.

A minha história começa numa festa universitária, mais cinco doses de tequila na cabeça e uma pergunta para a qual a resposta foi proporcionalmente imediata e certa, um beijo.

A partir daí tudo se costurou em datas, 16 de julho, primeiro de outubro, 20 de novembro. Sai ano. Entrou 2005. Dois de março e 19 (meu aniversário) para 20 de agosto. Entre essas datas foi mesmo um tudo, turbilhão.

As quatro estações do ano e desenhadas nelas borboletas no estômago, pernas bambas, um querer descarado. Um impulso da alma, outro impulso, de novo impulso. Um encontro, um sorriso envergonhado, um sorriso ousado. Vários desencontros. Dançando com as meninas. Tequila. Outros meninos, que não faziam sentido. Dançando mais com as amigas. Outras tequilas. Mensagens sem resposta no celular. Uma ligação pra ganhar o final de semana. And drinks keep coming all night long. Vontade de ficar. O tempo em slow motion passando depressa demais (!?) Outro sorriso, agora com aparelho nos dentes. Uma surpresa boa, outra surpresa boa. Um cheiro, um gosto, um toque e um agora muito veloz que já virou ontem e quer mais (muito mais) amanhã. Um amanhã que não chega nunca e que quando chegou fez o fim. Um fim que teve dúvidas e resquícios do que passou (passou mesmo?). Um fim cheio de intermitências e talvez por isso me custe acreditar que acabou.

Quando percebi que ali era o meu destino já estava na contramão fazia algum tempo. E nisso a falta de sentido fez todo o sentido.

A vida é muito rápida; faz a gente ir do céu para o inferno em questão de segundos.²

É que nesse vai e vem eu nem sempre conseguia dizer o que estava sentindo (eu nem sabia ao certo o que era) e algumas coisas eu gostaria que ele tivesse percebido, sem que eu precisasse ter dito. E nisso, a gente já não se entendia.

Quando eu não tinha nada a perder, eu recebi tudo.³

Como subterfúgio eu gosto de pensar que não existe antes ou depois dele, só existe agora.

* Mais tarde como que me lançando nas águas da memória, me dei conta de que, sem saber quem ele representaria pra mim, ele já havia me aparecido duas vezes. Assim despretensiosamente nas entrelinhas antes de se estampar em todas as páginas e para além delas.

** Embora, a essa altura não fosse só dela. Já era a história deles.

¹²³Trechos de Onze Minutos, Paulo Coelho.

2 comentários:

Lisiane disse...

Uuaal, it's a nice piece of a beautiful history baby!

a_girl_feeling disse...

hehehe It's nice... I just don't know if it's happy after all!